Tenho uma mesa na cozinha para duas pessoas (que nunca vieram a ocupá-la) e foi ali que joguei tudo o que carregava. Os ingredientes deitados na madeira crua me olhavam aflitos, sabiam que eu não hesitaria em lançá-los ao fogo.
O óleo ardia na panela quando joguei algumas fotos de 2007 para refogar. Achei que seria bom para tirar um pouco da acidez. Quando já estavam douradas, num tom meio sépia, acrescentei uns dois casos de Janeiro cortados em cubos pequenos. Selecionei os dois com cuidado, não queria correr o risco de deixar tudo muito picante. Reguei com um pouco de Vodka, pra dar um gosto de Sábado passado e deixei cozinhar por 20 minutos. Mas ainda faltava alguma coisa. Misturar casos recentes, memórias e álcool não era novidade alguma.
Foi então que me ocorreu: na gaveta da geladeira tinha umas vontades que só iriam amadurecer lá pelo meio do ano. Resolvi antecipar os poderes do tempo: "O fogo há de fazer com que elas fiquem prontas agora!". Deixei ferver por mais sete minutos.
Servi em um prato de porcelana branca. A fumaça fugia do frio da louça e vinha me tocar o rosto. Quando experimentei, as constatações:
- As fotos perderam a acidez, mas ficaram amargas.
- Os casos perderam o tempero, e ficaram com gosto de nada.
- O álcool da Vodka evaporou, e deixou um gosto de ressaca.
- As vontades... de tão adstringentes me provocaram o vômito.
Joguei tudo no lixo. Minha última alternativa foi procurar uma receita já pronta. Pensei naquela que um médico me havia prescrito quando tive uns sopros no coração. Mas não a pude encontrar.
Servi um copo de sono com três cubos de gelo, tomei tudo de uma só vez e voltei ao quarto. Foi um daqueles dias em que eu não estava para a cozinha.
2 comentários:
Lembro-me bem dessas refeições...
Ainda bem que existe sal de fruta!
Tome bastante antiácido estomacal e libere muito gás carbônico, pois esses são responsáveis pelo arroto e, principalmente, pela efervecência.
Tem dias que não estamos nem pra cozinha nem pra nada... mas é bom fazer esse tipo de refeição ora ou outra... para não esquecer como é
adorei!
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